foi muito tempo atrás
eu nasci num apartamento
de colo quente, leite
não me faltava nada
eu sorria todo dia
foi tanto tempo atrás
já nem me lembro mais direito
e eu tento, eu tento
voltar a ser mais lento
correr com pé na rua
tentar falar direito
mas nada nesse mundo nunca dura
e tudo que se aprende é só veneno
é suor que eu já não tenho
eu escrevo todo dia
e eu todo dia apago
pouco tempo atrás
eu nasci no isolamento
no mundo lazarento
do cárcere da tela
planeta dos anônimos
cela dos hormônios
fugi de casa cedo
o bom filho a casa torna
o bom filho dá trabalho
o bom filho só depende
o bom filho só se cansa
o bom filho cansa os outros
não dá conta da vida
só vive de socorro

eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso

foi tanto tempo atrás
nada vinha com defeito
o passado era recente
não dava pra ter medo
o futuro tava longe
não dava pra saber
o que vinha pela frente
a marcha dos demônios
a tênia no meu peito
o cansaço da cabeça
a vontade furiosa
de sempre dormir cedo
rezar pra não acordar
parece que é o jeito
se tudo tiver fim eu só aceito

eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo

e quem me deu ouvido
sumiu depois do feito
fiquei só esperando
o retorno do sustento
mas tamo tudo só
o mundo não tem dó
o resultado é pó
pra todo todo todo mundo
e tamo tudo só
o mundo não tem dó
o resultado é pó
pra todo todo todo mundo
e tamo tudo só
o mundo não tem dó
o resultado é pó
pra todo todo todo mundo
e tamo tudo só
o mundo não tem dó
o resultado é pó
pra todo todo todo mundo

e eu acordo todo dia
com dor no corpo inteiro
com brasa no meu braço
com lágrima de aço
com culpa pelos erros
com a dúvida dos certos
e fica cada dia mais difícil

eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas já não dá mais tempo
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
eu peço, peço ajuda
mas ninguém merece o peso
e nada me acontece
que me acalme o medo
não tem pássaro que cante
que não me dê azedo
que não me force a sede
e tento, tento, tento
e não adianta nada
tá tudo igual a sempre
a dor é pelo mesmo
a mesma condição
de ser um homem esmo
sem nenhuma solução
como é que eu mexo
com todo esse cansaço?
o que será que eu faço?
a televisão no máximo
janela escancarada
tem gente lá na sala
tá frio nessa cidade
que escolheram pra mim
tá frio na sua cidade
tá frio na sua cidade
todo domingo chega e nunca acaba
a semana continua
eu fico mais pra trás
a cada sete dias
a cada dez semanas
a cada calendário
eu fico mais atrás
e fico mais do mesmo
eu fico mais do mesmo